O popular adágio: "Se queres a paz, prepara-te para a guerra" (Si vis pacem, para bellum) é de Flávio Vegécio, um personagem nebuloso do Império Romano que viveu no século IV dC. Ele escreveu um Tratado da Arte Militar (Epitoma rei militaris) do qual foi pinçado a famosa frase. Nunca gostei desse provérbio por sua inspiração belicista, mas nunca parei para pensar nele.
Agora há pouco descubro que Marcel Proust escreveu sobre isso. Num dos volumes de sua monumental obra prima Em Busca do Tempo Perdido, no volume A Prisioneira encontramos a seguinte análise do pensamento de Vegécio: O preparar-se para a guerra, que o mais falso dos adágios recomenda a quem diz desejar a paz, cria, ao contrário, nos adversários, primeiro a crença de que o outro quer o rompimento, crença esta que termina por provocar a ruptura; e depois outra crença em todos de que quem começou a guerra foi o outro.
Convidado por Proust a analisar o conteúdo da exortação bélica vegeciana, chama a atenção o maquiavelismo do pensador militar, ele explora o medo, e aposta na desconfiança que as pessoas devem ter em relação às outras. Uma filosofia incompatível com a solidariedade, o amor ao próximo, o autruísmo, a ajuda mútua.
O escritor e professor de ioga, José Hermógenes, pacifista de carteirinha, fez um trocadilho com a famosa frase belicista: "Se queres a paz, prepara-te para ela". Em latim daria "Se vis pacem, para pacem". Kennedy, não sei se tinha Vegécio em vista quando disse: "Apenas as armas não são suficientes para assegurar a paz. A paz deve ser assegurada pelos homens". Concluindo: Paz não é a simples ausência de guerra, paz é um projeto a ser realizado, é um objetivo a ser alcançado, um estado de convivência almejado e desejado. Há que haver uma opção preferencial pela paz, assim como a Igreja fez uma opção pelos pobres. Temos que pensar como Samuel Butler (1612-1680) "Uma paz injusta deve ser preferi
da a uma guerra justa".
Concluindo com um pensamento meio enigmático: "A amizade sólida e a paz eterna entre todos os povos seriam sonhos? Não, sonhos são o ódio e a guerra, sonhos de que um dia os homens despertarão". Ludwig Börne (1786-1837).
quarta-feira, 11 de março de 2015
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