O MÊS DE JUNHO E O SIGNIFICADO DA MORTE DE SANTIAGO ANDRADE
Que esperar do mês de junho? Sem querer estimular ilações supersticiosas, as manifestações de junho de 2003 contam com um predecessor histórico. No Rio de Janeiro, no dia 15 de junho de 1901 o povo carioca que saíra para trabalhar com o dinheiro contado no bolso, foi surpreendido por um aumento no preço da passagem dos bondes. A surpresa logo converteu-se em revolta e bondes foram apedrejados, tombados e incendiados. A polícia, como sói acontecer, reagiu com truculência baixou o cacetete e disparou armas de fogo ferindo dezenas e matando alguns. A violência policial gerou mais violência por parte da população. Durante cinco dias o Centro da cidade virou uma praça de guerra, a rua do Ouvidor foi interditada com barricadas que usavam tampas de bueiro e até caixões de defunto. O Estado dando continuidade a uma estratégia de confronto enterrou os mortos secretamente no cemitério do Caju, frustrando os parentes e amigos das vítimas que foram ao necrotério. As manifestações só foram contidas de pois que a Companhia São Cristovão cancelou o aumento da tarifa.
Foi também num mês de junho do fatídico ano de 2002 que o repórter Tim Lopes no exercício de sua profissão, foi covardemente assassinado por traficantes da favela Vila Cruzeiro.Tim Lopes da TV Globo fazia a cobertura de um baile funk promovido por traficantes na favela Vila Cruzeiro. Tim Lopes foi capturado pelos traficantes, torturado e morto. Tim Lopes é hoje nome de um prêmio que contempla oito categorias: grande prêmio, fotografia, rádio, meio ambiente, direitos humanos internet, jornal impresso, e televisão.
Em uma homenagem póstuma a Santiago Andrade o Prêmio Tim Lopes 2014 incluiu mais uma categoria a ser premiada, a de cineasta, conferido a Santiago Andrade. O prêmio foi recebido pela viúva dona Arlita e pela filha a também jornalista Vanessa Andrade.
Entre os premiados estava o fotógrafo do portal Terra, José Mauro Leandro Pimentel pela reportagem Assembleia [Legislativa] em chamas. Esse episódio das manifestações do mês de junho (sempre junho) de 2013 foi uma tentativa de repetir em condições tupiniquins o incêndio do Reichstag. A Alerj fora deixada sem proteção de uma tropa de choque, à mercê de vândalos e coquetéis molotov. Os policiais de funções burocráticas que guarneciam o prédio ficaram encurralados e do lado de fora um policial militar quase foi linchado. Todos sabemos para que serve um incêndio desses: serve de pretexto para endurecimento do regime.
Voltando à Santiago Andrade. Ele foi morto por um rojão quando cobria uma manifestação de protesto contra um recente aumento das passagens de ônibus no Rio de Janeiro. Um aumento que não se justifica. Em Terezina, Piauí e Maranhão o preço da passagem é de R$2,10. Em Recife R$2,15. Por que no Rio de Janeiro a passagem tem que ser R$3,00? A máfia da mobilidade urbana já é contempladíssima com subsídios e isenção de tributos como PIS e Cofins. E tanto o oligopólio mafioso está nadando em dinheiro que expande seus negócios em outros estados. Tem dono de empresa de ônibus que diversifica seus negócios comprando empresa de aviação.
O povo que fora às ruas nas jornadas de junho para protestar já tinha conseguido uma vitória quando obrigou o prefeito a voltar atrás cancelando um aumento dado. E com certeza iria repetir o movimento até que o aumento recalcitrante fosse barrado. Santiago Andrade foi um cadáver colocado no caminho do movimento que iria fazer baixar o preço da passagem de ônibus no Rio de Janeiro. Sua morte não foi um acidente, os rapazes que usaram o rojão foram financiados. A sociedade está aguardando o inquérito da Polícia Civil que deve apontar quem deu dinheiro para que o fato fatídico tivesse lugar.
Esse o melancólico significado da morte de Santiago Andrade, morreu por causa de 25 centavos.
Vamos ver o que nos reserva o mês de junho que se aproxima.
sexta-feira, 18 de abril de 2014
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